O Bar só dá Para Um | Rodrigo Barros

De pai para filho, de geração em geração, crenças e paradigmas são transmitidos no meio e no núcleo familiar onde vivemos. A princípio, até uma certa idade, tendemos a nos enquadrar nesses padrões recebidos sem questionar.

Mas chega a hora em que nos deparamos com situações na vida onde é necessário refletir sobre os modelos herdados, questionar se eles realmente nos ajudarão a construir nossa  individualidade, quais precisam ser moldados aos novos tempos; quais devem ser radicalmente descartados, porque não fazem sentido para nós.

Assim como no foro íntimo, o mundo se transforma o tempo todo e não teria evoluído se, ao longo da história, ninguém tivesse questionado e rompido com os paradigmas vigentes!

Meus primeiros ídolos

Gosto de contar essa história sobre meu avô, imigrante português que chegou ao Brasil com 11 anos sem os pais, acompanhado de 4 de seus 11 irmãos, sendo o mais velho e o responsável por todos. Ele trabalhou duro, primeiramente na roça (naquele tempo havia roça na Zona Norte de São Paulo), depois como cobrador de ônibus, funcionário de bar e taxista. Mais tarde, ele conseguiu montar seu próprio bar.

Meu avô teve seis filhos, e todos trabalharam no bar para ajudar no sustento da família. Meu pai era o mais velho dos irmãos homens, e quando completou 17 anos foi pedir um salário ao pai; alguma remuneração para que começasse a cuidar da vida. A resposta do meu avô foi a seguinte: “filho, o bar só dá prá um”. Então meu pai – e assim sucedeu com todos os irmãos homens – teve que ir procurar outra coisa para fazer. Desde criança, eu convivi com essa crença e, por conta dela, não conseguia me imaginar trabalhando e perpetuando o negócio do meu pai; uma imobiliária na cidade de Guarulhos - SP.

Meu avô era um homem de muito valor e com espírito empreendedor nato. Ele alcançou um outro patamar de qualidade de vida com seu esforço, mesmo sendo um estrangeiro e com todas as suas limitações. Com ele aprendi que um homem, para vencer na vida, precisa de honestidade, coragem e trabalho.

Do meu pai, grande companheiro e amigo,  recebi todo o incentivo para perseguir os meus sonhos, investir no que acreditava. Seu encorajamento me trouxe autoconfiança para derrubar os muros que me separavam dos horizontes que desejava explorar.

Soma-se a esse legado consistente a oportunidade que abracei muito jovem, quando decidi investir na carreira de jogador de futebol, aos 15 anos. Enfrentar o novo, em países estranhos e distante da família aprimorou meu instinto de sobrevivência, ampliou minha visão de mundo e desenvolveu meu autoconhecimento.  Alemanha, EUA, Portugal… Um menino em busca de seus sonhos, levando na bagagem os ensinamentos que recebeu dos seus primeiros ídolos: o avô e o pai!

Meu bar não vai dar só para um

Ao ampliar meus horizontes, no entanto, foi inevitável questionar essa história de que o bar só dava para um. Aquilo poderia ser natural e bastante comum nos negócios familiares daquele tempo, mas não se encaixava com minha personalidade e meus sonhos. Então, decidi que, nos meus empreendimentos, “o bar” não daria só para um.

Quando minhas forças começaram a ficar evidentes, eu busquei colocar em prática ideias que pudessem impactar na vida de muitas pessoas e ganhar escala. Desenvolvi parcerias em projetos e  que podiam ser compartilhados e colaborados de forma crescente. Assim tem sido!

A Salad Creations, um dos empreendimentos brasileiros onde sou sócio, gera 450 empregos diretos e está em expansão. Na Puro Digital, nosso foco é gerar escala no ambiente virtual, por meio das  plataformas sociais e de tecnologia aplicada, agregando valor a marcas e a um número sempre crescente de pessoas, nas mais diversas verticais temáticas. Em minhas palestras, compartilho meu legado com plateias de centenas de ouvintes, no Brasil e no exterior.

Já na handson.tv, a gente está construindo uma plataforma de vídeo na vertical de empreendedorismo com

conteúdos curados por “embaixadores” espalhados por mais de 133 países, isso por enquanto. E de agora até novembro de 2015, estamos realizando a segunda edição da maior competição de startups da Europa, assinada pela HandsOn. Nesse ano, serão 8 países, com a grande final em Paris. São 64 startups participando presencialmente. Além da oportunidade de apresentar seus projetos a uma plateia de investidores e um juri selecionado,  todas elas passam por um workshop de mentoria no dia que antecede cada evento. Aqui, a intenção é multiplicar nosso modelo mental por meio de outros empreendedores, num efeito em cadeia; num ciclo virtuoso de aprendizado.

É pessoal, meu bar realmente abriu as portas para o mundo e muita gente está nessa jornada comigo!

Minha mensagem para você é que observe seus padrões mentais, herdados ou não.  Questione se eles estão alinhados com seus propósitos. A vida que existe não é só a vida que você leva. É possível expandir a visão e sonhar para além das muralhas, seja dos nossos paradigmas, seja do ambiente ou da cultura reinante.

Se você quiser que seus horizontes se ampliem precisa entender que terá que confrontar a própria zona de conforto e navegar por novos mares, balançar a cabeça violentamente, tirando dela todos os velhos vícios, as desculpas, os medos que paralisam.  Desejo que a minha história seja uma referência e um  incentivo para você correr atrás dos seus sonhos!

‘Acredito em pessoas que saem das suas zonas de conforto e correm o risco para criar e construir algo que vale a pena.”

RB

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